A imagem abaixo inspirou Lunna a escrever em 2 horas o texto abaixo, já postei alguns dos maravilhosos poemas dela aqui, e confesso que fiquei admirada com a beleza e perfeição desse texto, ainda mais por Frida ser uma das personagens.
Autora: Lunna Marcela A. Campos
A noite caia como um véu estrelado tornando o pequeno vilarejo um pouco menos miserável. A mulher que caminhava com certa dificuldade se esgueirava pelos cantos das paredes da casa ora nelas se apoiando levemente, ora se recostando nelas. Ela olhou a sua volta e voltou a caminhar assim que avistou uma placa esculpida em madeira sob um lampião a óleo e um moço atarracado o acabava de acender-lhe as chamas. Assim que chegou de fronte a porta rústica e esburacada olhou mais uma vez a placa acima de sua cabeça confirmando; Estalagem “Viveram Felizes Para Sempre”, um leve sorriso escarnecedor cingiu a boca rispidamente enquanto ela adentra porta a dentro arrumando o xale vermelho sobre seus ombros.
O interior da local estava escuro e levou alguns segundos para que ela acostumasse seus olhos e pudesse identificar suas amigas numa grande mesa posta em um canto discreto. Caminhando lentamente ela finalmente esta frente a frente aquelas que sendo suas amigas lhe enviaram tal convide com as seguintes premissas; Venha ter conosco amiga Frida, todas nós precisamos de você com urgência!. Tinha sido uma longa jornada porém havia chegado e agora estava ali sentada encarando suas amigas com olhar indagador.
- Então? Falou enchendo uma caneca de vinho entregue pelo estalajadeiro assim que ela se sentou - Posso enfim saber qual o motivo de tanta urgência? E assim todas começaram falando ao mesmo tempo e logo a algazarra foi interrompida por Frida, Calma uma de cada vez - Branca de Neve fala você primeiro, por favor, as demais aguardem!
-Frida que bom vê-la bem amiga, olha estou numa situação dificílima, meu pai se casou de novo após a morte de mamãe e agora meu pai também morreu – Branca de Neve olhava aflita para Frida e continuou - Ela é uma mulher belíssima, altiva e muito poderosa e eu a admiro muito, tentei me aproximar dela, ser amiga dela nada adiantou – Branca suspirava - não sei mais como agir para conseguir romper com esta condição lamentável que se instalou entre nós duas – pegando na mão de Frida disse – Me ajuda amiga o que eu faço para me entender com ela? Tenho medo de morrer sem me entender com ela e hoje recebi uma informação sigilosa que corro perigo de vida e minha morte está marcada para esta noite.
As mãos de todas as moças tremiam enquanto levavam os copos de vinho aos lábios e as jarras eram cheias sucessivamente. Frida olhou para Cinderela e fazendo um gesto disse – Fale você agora! – enquanto bebia seu vinho Frida mantinha o cenho franzido e alisava distraidamente as flores em seus cabelos.
- Estou apaixonada por um homem amiga não simples homem, mas um príncipe que conheci na floresta, eu e ele passamos um dia maravilhoso, foi loucura total! – falou baixando os olhos e soltando uma risadinha – Sabe teve magia, química, física e biologia, nos entregamos um ao outro sem pensar em nada nem em ninguém.
Naquele dia eu havia me arrumado muito bem com o vestido e as jóias ainda me restavam da herança de minha mãe. – Os olhos de Cinderela brilhavam perdidos nas lembranças da tarde de amor – Ele partiu para o castelo e prometeu que mandaria me convidar para um baile onde me apresentaria a seus pais e toda a corte como sua futura esposa – Cinderela agora chorava.
- Não consigo ver onde está o seu problema, Cindy.
- Não? Cheguei a casa aquela noite como sempre fazia, me esgueirando pelos cantos sombrios, mas fui descuidada, pois estava com a cabeça nas nuvens daquela vez, tinha sido tão intenso! - Cinderela se perdia em seus devaneios a todo instante - Enfim amiga fui pega pela minha madrasta que me confiscou meu pequeno tesouro, agora não tenho nada, olhem para mim? – falou Cinderela apontando os pés descalços, os andrajos remendados e sujos de borralhos, os cabelos desgrenhados e as mãos cheias de calo.
Realmente estava uma lástima pensou Frida – porem apenas disse – continue?!
Amiga e não é apenas isso, eu imaginava que desejaria vê-lo novamente e menti para ele, meu nome e todo o resto como sempre faço e nunca antes havia me dado problemas, mas agora eu desejo muito uma chance com meu príncipe encantador e a festa é esta noite.
- Entendi amigas – e erguendo a jarra de barro no ar gritou – mais vinho, por favor! –
Bebi porque queria afogar minhas mágoas, mas agora as coisas malditas aprenderam a nadar.
Quando Frida falava estas coisas as moças davam risadas apesar e toda preocupação delas. Frida era muito admirada por todas.
-Vamos Bela Adormecida comece a falar, sou toda atenção, mas peço que não se demorem, pois Diego me espera na entrada da vila, sabem como é nosso tempo juntos é sagrado para mim, dos meus acidentes ele é o meu predileto e mais importante.
Todas sorriram concordando e Bela começou a falar.
- Olha Frida como você deve se recordar hoje é meu aniversário de dezesseis anos e tem aquela maldição que fala que vou dormir o sono eterno e até agora não conheci ninguém para me dar o beijo e me salvar, e olha que procurei pelos quatro cantos deste e de muitos outros reinos. Meu pai e minha mãe estão insuportáveis, querem me manter trancada a quatro chaves no castelo e se eu quero sair tem que ser escondida. Agora me digam como eu poderia conhecer algum amor verdadeiro se nem de casa saia? Eu odeio meu pai e minha mãe e eu estou seriamente desconfiada que eles pretendam é me matar! Amiga acredite em mim.
- Sim acredito em você Bela assim como também acredito nas outras, pois sei que não há nada escondido; se houvesse eu veria.
- Muito bem, vamos lá! - Serei breve e sucinta prestem bem atenção em minhas palavras; - Tomando mais um gole falou disparou – Branca você vai para o castelo e vá ao encontro de sua madrasta nos aposentos dela, dispa-se diante dela, liberte-se de todo receio e diga-lhe todo amor que sua alma carrega por ela. Fale sem meias palavras ou verdades de seus sentimentos e coma a maça que ela te oferecer sem medo de ser feliz.
- E você Cinderela - olhou para a amiga – também deixe de se auto-afirmar em coisas tão efêmeras como roupas e jóias, por acaso quando você e seu príncipe se amaram você estava vestida ou ele? Eram os dois príncipe e princesa ou homem e mulher? - Vá agora para o castelo e diga tudo ao seu amado e se ele te amar vai lhe amar da mesma forma que antes, se desistir de você é porque não te ama.
- Bela minha flor, deixe imediatamente esta sua vida parasita e vá agora a casa das mulheres tecelãs aprender a fiar, tenho certeza que isso resolve seu problema imediato, afinal somente uma princesinha mimada iria espetar o dedo em uma fiandeira tão rudimentar.
E levantando-se chamou as amigas agora venham aqui perto – ordem prontamente atendida por todas – Frida pegou uma navalha sobre a mesa e chegou bem perto das amigas.
– Branca assuma sua homossexualidade e seja feliz – falou enquanto passava a navalha sobre os cabelos dela deixando os cabelos de Brancos bem curtinhos.
- Cindy você é livre para viver plenamente sua sexualidade sem necessidade de tentar ser quem você não é – cortou a blusa de cinderela que em trapos caiu ao chão e com um carvão que estava sobre a mesa Frida escreveu na pele da amiga – Meu corpo minhas regras. – Sua melhor roupa Cindy!
- E você Bela, tome para si este livro e leve-o com você e o leia quando for ter com as tecelãs do reino tenho certeza que tanto você quanto elas vão fazer muito bom uso dele.
Bela pegou o livro nas mãos e leu as letras douradas na capa preta do volume, “Maquiavel”
Frida continuou falando; - amigas lembrem-se que eu apenas pinto a mim mesma porque sou o assunto que eu mais conheço, então dediquem o vosso tempo buscado conhecer a si próprias.
Dizendo isso Frida levantou-se e saindo da taverna sumiu na noite escura enquanto as outras três mulheres se despediam e saiam em busca de suas vidas transformadas por aquela mulher.