"Josielma Ramos"
Havia algo que me hipnotizava nos olhos da minha vizinha,
às vezes ela passava com suas amigas, vindo do colégio e eu apenas ficava a
olhando, simplesmente não conseguia desviar o olhar, apenas quando o olhar de
Elisa cruzava com o meu, era que eu despertava do meu transe e ficava
totalmente envergonhado por ficar a olhando tão descaradamente, era sempre a
mesma rotina, ela passava, vindo do colégio e eu moleque que era estava sempre
sentado no muro de casa empinando pipa, mais quando ela passava meu mundo
parava, eu não conseguia pensar mais em nada só nos olhos de Elisa.
Certo dia minha prima Anita enviou um convite de
aniversário, eu não queria ir, mais quando cheguei à casa de Anita agradeci por
minha mãe ter me obrigado a ir, Elisa era amiga de Anita e estava lá, eu ficava
hipnotizado olhando ela dançar com suas amigas, eu não parava de olhá-la, para
não ficar muito constrangedor decidi ir para a varanda da casa e ficar por lá
até a hora de cortar o bolo, de repente ouvi uma voz falando comigo:
—Você é primo da Anita?
Era ela, Elisa estava falando comigo pela primeira vez,
aqueles olhos... Não consegui formular nenhuma palavra para responder a ela,
então fiquei calado e apenas balancei a cabeça em sentido afirmativo.
—Sempre te vejo me olhando, você tem algum
problema comigo?
Balancei a cabeça em sentido negativo.
—O gato comeu sua língua?
—Desculpe é que não consigo parar de te olhar,
você tem olhos lindos sabia?
—Ah, obrigada — Disse Elisa meio
sem graça com o elogio inesperado.
—Desculpe se te constrangi —Respondi envergonhado
de ter abrido minha boca.
—Não estou constrangida, só não esperava que elogiasse meus olhos,
nunca é a primeira coisa que me dizem, é sempre “você é uma garota bonita”,
mais fiquei feliz com seu elogio, obrigada.
Eu não consegui dizer mais nada, os olhos dela me hipnotizavam, me
consumiam, eram enormes como os olhos de um gato e tão azuis como um oceano
profundo, pareciam querer me afogar, ah se eu pudesse me afogar neles, beber de
suas águas salgadas, nadar até o infinito dos olhos de Elisa, ela estava ali na
minha frente, bastava que eu pulasse para mergulhar neles, mas enquanto ainda
pensava se pulava ou não Anita chegou e nos puxou para dentro de casa para
cantar parabéns.
Elisa acabou se mudando de nosso bairro, seus pais se divorciaram e
ela foi morar com sua mãe em outra cidade, o pai continuou lá morando mesma
casa sempre sozinho, Elisa nem vinha mais visita-lo, eu ouvi dizer que ele não
aceitava as visitas dela, mas se é verdade ou não eu nunca soube, a única coisa
que sei era que eu sentia falta de olhar nos olhos de Elisa, suas amigas ainda
passavam vindo da escola e eu continuava ali em cima do muro empinando minhas
pipas, mais meu olhar já não cruzava com o dela.
Anos se passaram, mas eu sempre me lembrava daquele olhar em que eu me
afogaria se tivesse tido a oportunidade. Um dia cruzando a rua do terminal
rodoviário uma garotinha estava correndo, devia estar com seus oito ou nove
anos de idade, ela caiu bem aos meus pés e eu me abaixei para ajudar a se
levantar.
—Obrigada moço —Respondeu a garotinha.
Fiquei sem palavras quando aquela garota me olhou, seus olhos eram
enormes e azuis, sim azuis como os de Elisa, pensando bem a garotinha me lembrava
de Elisa, fiquei paralisado e confuso, quando uma mulher correu em nossa
direção.
—Sophie querida, você está bem, já disse para não ficar correndo por
ai, obrigada senhor—A mulher me disse sorrindo.
Eu não pude acreditar no que via, era Elisa, depois de todos aqueles
anos sem ver aqueles olhos, os olhos com que eu sonhava toda noite, os olhos
que eu desejava loucamente mergulhar.
—Elisa?
—Desculpe, nós nos conhecemos?
—Sim, mas isso foi há muito tempo, sou Antônio, primo da Anita.
—Eu me lembro de você, nossa faz muito tempo mesmo, Antônio essa é
minha filha Sophie você tem filhos?
—Não, apesar de gostar muito de crianças, infelizmente nunca me casei,
não encontrei o amor da minha vida.
—Entendo, eu pelo contrário encontrei o amor da minha vida, ou ao
menos era isso o que eu imaginava, acabou não dando certo, mas me deixou um
presente maravilhoso—Ela respondeu abraçando a filha.
—Sinto muito que não tenha dado certo, mas confesso que fico feliz de
ouvir isso.
—Ah é mesmo? E por quê?
—Porque senão eu não poderia te convidar para tomar café comigo.
—Agora eu não posso, mas vou adorar colocar a conversa em dia, não nos
vemos há tanto tempo.
Trocamos números de telefone naquele dia, eu não acreditava na sorte
que eu tinha, quase 20 anos sem ver aqueles olhos, parecia que o destino nos
queria juntos, no dia seguinte liguei para Elisa que aceitou meu convite para
jantar, fomos a um restaurante italiano a algumas quadras do meu apartamento,
conversamos sobre a nossa época de criança, lembramo-nos do aniversário de
Anita em que conversamos pela primeira vez, ela não quis falar sobre o divórcio
de seus pais, era um assunto que ainda a magoava e mais ainda por sua filha
estar passando pela mesma situação. No fim da noite me ofereci para leva-la de
volta para casa, mas não me lembro bem como e porque fomos parar no meu
apartamento, minhas vagas lembranças são de que bebemos muito e ela acabou me
beijando no meu sofá.
Acordei na manhã seguinte nu na minha cama, estava com uma ressaca
terrível e uma imensa dor de cabeça, não lembrava quase nada da noite anterior,
mas me lembrava de Elisa e de termos nos beijado, não me sentia mais tão
obcecado por seus olhos, talvez eu quisesse tanto estar com ela que me apeguei à
paz que sentia olhando em seus olhos, mas agora que a tinha por perto talvez
tudo mudasse, talvez ficássemos juntos e eu poderia olhar para aqueles olhos
todas as manhãs, teria dois pares de olhos azuis profundos para olhar, os de
Elisa e os de Sophie.
Virei-me na cama e senti algo, o contorno de um corpo entre os
lençóis, puxei-os um pouco e vi as belas pernas nuas de Elisa por baixo dos
lençóis, ela ainda estava ali dormindo, então não tinha sido um sonho, me permiti
um sorriso de felicidade, não queria acorda-la, então levantei e fui até minha
cômoda procurar uma roupa e antes mesmo de abrir a gaveta fiquei curioso pelo
fato do porta-joias da minha mãe estar ali, eu sempre o guardava no cofre em
meu escritório, eu poderia simplesmente ter pego a pequena caixa e a guardado
na minha gaveta, mas a curiosidade me fez a abrir, entrei em choque e o
porta-joias caiu de minha mão deixando rolar um par perfeito de olhos azuis
profundos, corri até a cama e olhei no rosto de Elisa, não havia mais azul, não havia mais oceano, apenas duas orbitas vazias, ela
não dormia, estava morta.
Que loucura! Parece eté filme desses que a gente se surpreende no final! Adorei!
ResponderExcluirhttp://leversosecontroversias.blogspot.com.br/
Que ótimo, era realmente essa a reação que eu esperava quando terminei de escrever, obrigada por ler e gastar um pouquinho do seu tempo aqui no meu blog.
Excluirbeijos :)
Nossa que conto forte, me lembrou o conto "Berenice" do Edgar Allan Poe, muito bom mesmo parabéns. Sucesso para você e para o blog.
ResponderExcluirArthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com
Obrigada Arthur, realmente sou uma grande fã de Edgar Allan Poe, e tendo introduzir um pouco do que lembro de suas histórias em meus contos, é claro que jamais chegarei aos pés dele, mas fico feliz quando alguém gosta dos meus contos, mais uma vez obrigada.
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