10 maio 2014

O fim chega...

Escrevi esse conto a pouco tempo e fiquei muito satisfeita quando terminei de escreve-lo, sempre amei as histórias de terror de Edgar Allan Poe, e inspirada por ele decidi escrever a minha primeira, nada digno de chegar aos pés do brilhantismo de Poe, mas para uma primeira tentativa fiquei muito feliz, então espero que agrade.


Ele chegou com aquele mesmo humor de como quando andava bebendo, abriu a porta cambaleando e derrubando tudo em seu caminho, eu corri para meu quarto e me escondi, escutei toda discussão e minha mãe chorar, ele dizia que ela estava velha e gorda, que não aguentava mais olhar para ela, falou que sua comida era uma droga e cuspiu no rosto dela, eu me senti impotente por sempre assistir a tudo aquilo e não poder fazer nada, ela era minha mãe e sempre me protegia, porque eu não conseguia fazer o mesmo? Naquela noite quando ela veio me dar um beijo antes de dormir eu pude enxergar seus olhos vermelhos de tanto chorar e a marca da mão dele em seu rosto, nunca consegui entender porque ele fazia aquilo com ela, afinal de contas ela trabalhava pra ajudar em casa, cuidava de mim, da casa, lavava as roupas dele, cozinhava pra ele, amava ele, mais tudo só parecia piorar e eu sempre impotente, uma criança o que eu poderia fazer? Eu tinha medo de ficar no mesmo cômodo com ele.
Um dia eu estava na mesa do café da manhã antes de ir para o colégio, ele entrou na cozinha com a cara de ressaca de sempre e tropeçou na minha mochila que eu tinha jogado a um canto quanto entrei na cozinha, foi tudo que precisou para ele explodir comigo, me arrastou pelo braço me derrubando da cadeira e me chamando de inútil, que era por isso que meu pai havia sumido no mundo e agora era ele que carregava o fardo, ele me bateu, me deu vários tapas no rosto, eu sentia o gosto do sangue nos meus lábios, naquele momento senti algo novo dentro de mim, talvez o fato dele estar sóbrio daquela vez tenha me deixado com mais raiva e acumulando com o que minha mãe vinha passando na mão dele eu não pude suportar, minha mãe não pode fazer nada perto dele era pequena e indefesa e ele lhe deu um tapa quando tentou se aproximar para separar ele de mim, depois de um breve momento torturante ele olhou para mim como se estivesse arrependido do que fez, mais não se desculpou apenas saiu batendo a porta, minha mãe correu até mim e me abraçou, ouvimos o motor do carro sendo ligado, ele saiu cantando pneu.
Enquanto minha mãe cuidava dos meus muitos machucados ela tentava dar uma desculpa para o fato de ele agir daquela maneira, ela dizia que ele se sentia frustrado por não ter um emprego melhor, por ela ganhar mais que ele e pelo fato dela chegar às vezes tão cansada do trabalho e não ter tempo para dar o carinho e atenção que ele merece, eu nunca concordei com essa linha de raciocínio da minha mãe, nunca achei que era culpa dela ele ser assim, ele não tinha um emprego melhor porque era um acomodado, alem do dinheiro dele gastava o da minha mãe também e sempre com bebidas, se tudo que minha mãe fazia era por mim e por ele como ela podia dizer que não dava o carinho e atenção que ele merecia, em minha opinião nem morar no mesmo planeta que ela ele merecia, mais era tudo complicado demais e minha mãe não queria me escutar, talvez estivesse cega de amor ou tivesse medo demais para desafiar ele, então eu decidi tomar uma decisão pelo bem dela.
Uma noite minha mãe ligou avisando que ficaria de plantão no hospital e que não era para esperar por ela, pensei que aquela seria a noite perfeita para por um fim naquele sofrimento, subi até o andar de cima e fui até o banheiro, liguei as torneiras, deixei a banheira encher e esperei.
Depois da banheira encher e eu fechar as torneiras escutei o barulho do carro dele chegando, desci as escadas correndo e fui para a cozinha, ele entrou perguntando sobre minha mãe e eu avisei que ela não viria para casa pois estava de plantão, ele abriu a geladeira e pegou uma lata de cerveja, dava pra ver que estava bêbado e mesmo assim continuava a beber, perguntei se ele sentia fome e ele disse que não que queria apenas dormir, falei que tinha preparado um banho de banheira pra mim, mas que ele podia tomar se quisesse antes de dormir, já esperava receber um tapa, mas para meu espanto ele concordou comigo dizendo que dormiria mais sossegado de banho tomado, ele mal conseguia subir as escadas sem tropeçar a cada degrau, tentei ajudá-lo a subir mais ele era pesado demais, depois de alguns minutos com um pouco de esforço chegamos ao banheiro, ele estava tão bêbado que nem suspeitou da banheira que já o esperava cheia, eu sai do banheiro para ele se despir, ouvi o barulho de água caindo e percebi que ele já estava dentro dela, perguntei do outro lado da porta se ele queria mais alguma coisa, talvez um uísque, ele disse que sim, desci até a cozinha e peguei um copo e a garrafa, voltei correndo escada acima e bati na porta perguntando se podia entrar, ele me respondeu que sim, e me pediu para encher o copo e deixar a garrafa lá, entreguei o copo para ele que virou de uma só vez e me pediu para encher mais um copo e depois sair de lá, enchi o segundo copo, mal ele virou o copo adormeceu de tão bêbado, era a minha deixa, o momento que aguardei a noite toda, arregacei as mangas da minha blusa, apoiei minhas mãos em sua cabeça e afundei devagar até ele ficar submerso, ele acordou e tentou levantar, mais estava fraco depois de ter bebido tanto, ele continuou lutando o que pareceu horas, até que se rendeu e parou de respirar, estava morto, eu sentia como se uma corrente estivesse se partindo e eu estivesse livre finalmente, ali mesmo no banheiro troquei minhas roupas molhadas por roupas secas, corri até a lavanderia e joguei as roupas molhadas dentro da máquina de lavar junto com outras tantas, depois voltei ao meu quarto, deitei em minha cama e dormi.
Nem notei que já havia amanhecido, só quando ouvi os gritos da minha mãe foi que percebi o que estava acontecendo, corri até o banheiro e ela estava de pé em frente à banheira chorando e gritando, eu a abracei e disse para ela se acalmar que tudo ficaria bem, levei-a até a sala, ela ligou para o hospital desesperada pedindo para mandarem uma ambulância que seu marido estava morto, minutos depois uma ambulância chegou acompanhada de um carro de policia, fizeram todos os procedimentos com o corpo enquanto o policial fazia várias perguntas, minha mãe disse que havia passado a noite em plantão no hospital, e que estava apenas eu e ele em casa, o policial me perguntou se eu não tinha ouvido nada, eu contei a eles o que tinha acontecido na noite anterior, disse que ele chegou muito bêbado em casa e me pediu um copo e uma garrafa de uísque e me mandou levar no banheiro, disse que obedeci porque se não fizesse o que ele mandava ele me batia e mostrei os machucados que ainda estavam cicatrizando em meu rosto, e que depois de entregar o uísque ele gritou para eu sair do banheiro e ir pro meu quarto e não sair de lá porque ele não queria mais olhar para a minha cara, e eu fiz tudo como ele pediu.
O policial informou que depois que o legista examinasse o corpo ele voltava com mais noticias, e assim ele fez alguns dias depois, voltou dizendo que a autopsia mostrava um alto nível de álcool no corpo e que pelo que parecia tudo não passava de um trágico acidente doméstico, eu estava livre e jamais desconfiariam de uma criança que estava dormindo no momento do incidente.
Não demoraram muito para liberar o corpo para o velório, minha mãe estava muito abalada mais cuidou de cada detalhe, fez questão de escolher um belo caixão e ligar para todos os conhecidos, amigos e familiares, eu não tinha conversado com minha mãe desde o ocorrido e não sabia o que ela pensava ou como estava se sentindo, pois desde o dia que ela encontrou o corpo no banheiro eu não tinha mais a visto chorar e nem demonstrar nenhum tipo de emoção, boa ou ruim.
O velório ocorreu de maneira calma e com um clima estranho no ar, as pessoas vinham dar os pêsames para mim e minha mãe, ela ficava lá do lado do caixão sem responder a ninguém, apenas parada olhando para o nada sem demonstrar reação, acompanhou o cortejo fúnebre até dentro do cemitério, ela parecia uma morta viva, ele foi enterrado, os coveiros cobriram o caixão, nem assim ela reagiu.
Após o enterro fomos para casa, ela subiu direto ao quarto e se trancou lá dentro, eu estava começando a ficar preocupado com ela, com medo dela fazer alguma besteira, bati na porta e perguntei se ela estava bem e pra minha surpresa ela me respondeu, com voz rouca ela disse que apenas precisava dormir um pouco, resolvi dar um tempo pra ela, fui tomar um banho, mais usei o banheiro de baixo, estava evitando o banheiro do andar de cima desde o dia da morte.
Entrei no box e liguei o chuveiro, era tão bom sentir a água quente correndo pelo meu corpo, o chuveiro estava tão quente que uma névoa se formou no ar, desliguei o chuveiro, peguei uma toalha e sai do box, quando vi escrito no espelho suado as palavras EU SEI! Fiquei assustado, quem teria escrito aquilo? Só estava eu e minha mãe na casa e não tinha como ela saber de nada, com a toalha limpei o espelho apressadamente e corri para o meu quarto, me deitei na cama, eu estava tão cansado depois daquele dia cheio que adormeci no mesmo instante, sonhei com meu padrasto, ele estava em pé na minha frente com a água pingando do seu corpo para o chão do meu quarto apontando para mim e dizendo
_Eu sei! Eu sei! Eu sei! EU SEEEEEEEEIIIII...
Ele se desmanchou como se fosse feito de água e se derramou por todo o meu quarto começando a me afogar, acordei completamente suado como se realmente estivesse sendo afogado, olhei para o relógio e já eram duas horas da manhã, fui ver se minha mãe estava bem, mas ela não estava no quarto, desci as escadas e as luzes da cozinha estavam acessas, minha mãe estava sentada na mesa com um olhar apático e um copo de uísque na mão, o que achei estranho, pois ela não bebia, ela olhou para mim e pediu que eu me sentasse com ela, obedeci, ela finalmente desabafou e me contou tudo que sentia, ela me disse que era culpa dela ele estar morto, que ela havia desejado aquilo, que queria se sentir triste pela morte dele, pois o tinha amado muito, mais que no fundo ela estava feliz, eu não podia culpá-la por se sentir feliz ele era um babaca, ela disse que não conseguia dormir que sentia o peso pelo que havia desejado naquele momento eu comecei a me sentir culpado por ter sido quem causou o sentimento de culpa na única pessoa que queria proteger, eu disse para ela que só se sentia assim por culpa do luto, que com algumas semanas esse sentimento passaria e que tudo voltaria ao normal, ela balançou a cabeça concordando.
Nas semanas que se passaram minha mãe pareceu ter uma considerável melhora de humor, estava mais bonita, havia perdido peso, estava se cuidando mais e praticamente já tinha ou estava tentando esquecer o “acidente”, já pra mim não posso dizer que as coisas melhoraram, o maldito me assombrava em meus sonhos, coisas estranhas aconteciam pela casa, não sei se era o medo da policia descobrir algo que estava me fazendo imaginar coisas, ou se era o medo do fantasma dele estar assombrando a casa, todas as vezes que eu dormia acordava gritando, aonde eu ia tinha água se espalhando pelo chão, eu mal conseguia entra no banheiro com medo de ver algo, e toda vez que entrava via.
O medo e a culpa me consumiam pouco a pouco, um dia não aguentando mais tanto pesadelos e visões me assombrando, corri para o banheiro em busca dos calmantes da minha mãe para ver se eu conseguiria dormir em paz, foi uma coisa de momento, havia me esquecido que estava evitando o banheiro do andar de cima, e quando entrei me deparei com algo que eu não podia imaginar, a banheira estava cheia de água, mais minha mãe não estava em casa, quem a havia enchido, foi quando ouvi uma voz longe sussurrando.
_Entre!
Fiquei totalmente apavorado, mais minhas pernas não se moviam, eu não conseguia tirar os olhos da banheira, era quase hipnótico, depois de um longo tempo entre o ser ou não, fazer ou não, minhas pernas se moveram lentamente em direção a banheira, entrei uma perna de cada vez e sentei-me dentro da banheira esperando eu não sabia bem o que, de repente senti algo empurrando minha cabeça, mais não havia mais ninguém ali, a mão ainda fazia pressão na minha cabeça enquanto eu lutava tentando me desvencilhar, mais meus esforços eram impossíveis, fosse o que fosse que que estivesse tentando me afogar, era mais forte do que eu, comecei a ficar mais fraco e sentir a água entrando em meus pulmões, não conseguia mais respirar, vi pela última vez o rosto da minha mãe chorando sobre mim, a pessoa que eu mais quis bem no mundo.

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